sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

JESUS - UMA ERA DE FARSA

“O JESUS HISTÓRICO EM SUA ORIGEM JUDAICA”
Por Tav Rosh Benyakóv

Discorrer sobre Jesus pode ser demasiado delicado, complexo e contraditório. Pois não é possível determinar que ele tenha sido um ser real, encarnado, com vida social que possa ser reconstituída de forma precisa e histórica. Por outro lado, tudo o que dizem sobre ele, bem como tudo o que tem sido produzido e pregado sob argumento de sua possível existência, influenciou radicalmente a sociedade por dois mil anos. Sendo assim, o Jesus histórico só pode ser estudado e avaliado por meio dos acontecimentos que evocam seu nome e seus valores, capazes de gerar concretas reações no cenário social. Ou seja, entendo que o Jesus histórico é produto do imaginário coletivo - plural e controvertido – ora construído, materializado e manipulado no decorrer da história.
Mas que Jesus histórico será discutido: O da expectativa messiânica judaica, oriunda do cativeiro babilônico? O essênio? O Mestre da Justiça? O rei? O sacerdote? O eremita ascético? O rabino fariseu? O herege, profano e reacionário que foi condenado à morte por justiça? O que se casou com Maria? O que teve relações sexuais com João? Aquele narrado no cânon cristão ou nos apócrifos? O helenístico? O gnóstico? Ou aquele deificado e forjado para ser dominador romano? Mas romano ortodoxo ou católico? O mesmo Jesus que legitimou a inquisição universal e o pogrom russo? Ou o Jesus também anti-semita, reformado, e luterano, que serviu de base ao protestantismo alemão e nazista? Ou o Jesus que motivou o selvagem capitalismo europeu e americano? Mas deixaria de ser histórico o Jesus mítico, e místico, produzido pela coerção social das tradições imperialistas cristãs? E o Jesus cardecista e esotérico? E o Jesus arquetípico de Jung? Ou o Jesus da experiência pessoal, ora produto da esquizofrenia e demais patologias psíquicas, tal como a fraude do inconsciente? Ou o Jesus mercenário, manipulador, curandeiro, charlatanista, que vende a salvação nos movimentos neopentecostais contemporâneos? Ou, quem sabe, o Jesus imaginativo, lendário, fabuloso e literário que inspira adesões político-partidárias ainda hoje? Sob que perspectiva é possível avaliar este personagem-curinga, que respalda o bem e o mal, a ordem e a revolução, a paz e a guerra, a dominação e a liberdade, a fé e a razão, variando de acordo com a época, grupo social e interesse político de quem o defende? Quem é este ídolo plástico, sempre remodelado pelas mãos dos artífices-ideológicos que trabalham para a crescente legitimação e manutenção do poder? Quem é este ídolo de barro que é vivificado, adorado e imortalizado pela alienante crendice das massas?
Ao focar a atenção somente no período contextual do segundo Templo de Jerusalém, por volta de 515 a.e.c até 70 e.c, percebe-se que a fé judaica estava dividida em diversos segmentos: samaritanos, saduceus, escribas, fariseus, essênios, zelotas, macabeus, herodianos, sicários, caraítas... e, por fim, cristãos. Nota-se, a partir desta introdução, que o judaísmo nunca foi uma religião homogênea, detentora de um só dogma. Ao contrário, sempre foi plural e, às vezes, os judeus discordavam quase plenamente em suas crenças à medida que seguiam de uma facção à outra. Em função disto, segundo o historiador Flávio Josefo, em meados de 150 a.e.c, um grupo de ascéticos separatistas, denominado essênio, migrou ao deserto por encontrar-se insatisfeito com a religiosidade, política e helenismo predominantes em Israel. Os essênios dividiam-se em grupos de 12, vestiam-se de branco, usavam barbas, eram celibatários, acreditavam em cura pela imposição de mãos, aboliam a propriedade privada, eram vegetarianos, realizavam batismos, praticavam o ritual da ceia com vinho e pão, expulsavam demônios, acreditavam no Bem e no Mal, em filhos da Luz e das Trevas, não aceitavam sacrifícios de animais, desprezavam o Templo, acreditavam na vinda de um messias libertador, valorizavam as escrituras sagradas e dedicavam-se a estudá-las – sendo estas também as principais características de Jesus e seus discípulos, conforme narrativa dos Evangelhos. Assim, possivelmente, os essênios teriam lançado as principais bases teológicas do cristianismo primitivo – e ainda judaico. E mais que isto, pois, talvez, tendo sido o Mestre da Justiça um tipo de messias judeu - dentre tantos outros que já existiram - fora progressivamente mitificado pelos primeiros gnósticos-cristãos ao ponto de, séculos mais tarde, também ser usurpado e deificado pelo Império Romano.
Independente de quem, exatamente, tenha sido o Jesus histórico, é notório que ele foi filho do judaísmo e representava exclusivamente as expectativas sociais, políticas, religiosas e messiânicas de determinados segmentos israelitas. Inclusive os Evangelhos (escritos entre 70 e 90 da e.c) testemunham que os pais de Jesus e seus discípulos eram judeus, da linhagem de David; ele freqüentava as sinagogas, o Templo, e colocava-se a reinterpretar livremente a Torá e as Escrituras, tal como um rabino fariseu; seus ouvintes eram basicamente israelitas; e mesmo Paulo, que foi o maior propagador de Jesus, era fariseu convicto, criado aos pés de Gamaliel, detendo profundo conhecimento da Lei judaica; e, segundo os Atos dos Apóstolos - apesar do proselitismo e da contínua conversão de gentios ao judaísmo - o tema do possível messianismo de Jesus era sempre discutido entre judeus e dentro das sinagogas. Mas o conceito judeu de messias era simplesmente o de "libertador e restaurador político”. Jesus nunca foi considerado "deus-encarnado" na religião judaica, nem parte de uma trindade divina – isto era considerado blasfêmia, heresia, profanação e idolatria, sendo absurdamente incompatível com a cultura deles. Consequentemente, a grande maioria de judeus repudiou completamente a Teologia Paulina, causando uma cisão definitiva entre judeus e cristãos. E o Império Romano perseguia tanto a um quanto ao outro, torturando-os, queimando-os, e matando-os durante os quatro primeiros séculos. Somente em 313 da e.c. que Constantino se converteu ao cristianismo primitivo e concedeu liberdade de culto a Roma, mandando construir a primeira igreja com seu próprio dinheiro. Em 325 e.c., no Concílio de Nicéia, Constantino tentou unificar o pensamento cristão e eleger alguns dogmas - tal como a doutrina ariana, que defendia a divinização de Jesus. Em 330 e.c. a capital do império foi transferida para Constantinopla; e apenas em 380 da e.c.,Teodósio tornou o cristianismo uma religião estatal. A partir deste momento concretiza-se a maior usurpação religiosa da história: o carpinteiro judeu é transformado num deus romano, a Tanach é substituída pelo Novo Testamento, as sinagogas cedem lugar às igrejas, as raízes judaicas são extirpadas e recebem uma maquiagem helenizada, o povo judeu é desapropriado de suas riquezas e amplamente exterminado sob o trágico argumento de terem “assassinado o Filho de Deus” - e o judaísmo é transformado em cristianismo, dando início à tenebrosa Idade das Trevas.
Sob esta brevíssima e superficial perspectiva, já é possível perceber que o Jesus pregado pela igreja – seja ela Ortodoxa, Católica, Protestante ou Neoprotestante - tornou-se mais que uma mitificação progressiva e naturalmente mutante, mas uma fraude histórica a serviço do poder. Trata-se de um Jesus roubado, deturpado, forjado, recriado, folheado a ouro – desde a Patrística, Escolástica, Reforma – para ser forçosamente comprado por parcelas incultas da população. Todavia, esta conclusão não encerra a discussão sobre Jesus e aponta para infinitas outras problematizações históricas, culturais, religiosas, sociais, políticas, psicológicas e ontológicas - algumas das quais sugeridas no segundo parágrafo deste artigo - que necessitam de maior atenção, pesquisa e aprofundamento filosófico.

2 comentários:

Ivani Medina disse...

Por que a história é muda quanto o alegado cristianismo do século I, enquanto os historiadores cristãos são tão falantes a esse respeito?

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

Ricardo Dias disse...

Sobre o autor, que usou a Flavio Josefo de ancora. Uma pergunta? Se tudo isso que vc citou estiver errado? Ja que vc entende que tudo pode ser questionado, te pergunto você acredita em alguma coisa ou vive na incerteza absoluta?