sábado, 4 de maio de 2013

A Reencarnação no Judaísmo

Em junho de 2011 foi publicado na seção "Mitos no Judaísmo III" na Rua Judaica um mito sobre reencarnação. Devido a quantidade de emails que recebemos para aprofundarmos no tema, vamos publicar o tema novamente, com uma visão mais profunda.

O mito: - O judaísmo não preconiza o conceito de a vida após a morte e não considera viável a reencarnação.

Mentira: A base do judaísmo e da prática da Torah gira em torno da continuidade espiritual em uma outra dimensão. Segundo a Torah, em inúmeras fontes, Deus decide quantas chances, e quantas reencarnações, cada pessoa terá para completar sua meta. Neste mundo tudo permanece oculto — aquele que faz uma mitzvá (cumpre um ato positivo), ou uma averá (uma transgressão) permanece idêntico na superfície; não é possível distinguir pela face quem é um assassino e quem é um benfeitor. A própria palavra em Hebraico para "mundo" — OLAM — vem da raíz NEELAM, que significa oculto.
Uma visão mais profunda:
REENCARNAÇÃO
Uma alma poderá regressar a este mundo diversas vezes, em diferentes corpos, e assim poderá consertar o que a prejudicou em vidas anteriores, ou completar qualquer assunto que tenha ficado pendente. No final de todo este caminho, depois de todas as reencarnações, a alma será julgada de acordo com sua atuação em todas as vidas e situações que viveu em cada uma delas. Certas condições em que uma pessoa se encontra em sua vida atual podem ter sido determinadas por atos cometidos em outras vidas. A propósito, esta é uma das explicações para o fenômeno aparentemente injusto do sofrimento que ocorre com as pessoas justas (Livro Derech Hashem, do cabalística Chaim Luzzatto, parte 2 cap.3). Está escrito no Zohar (Zohar Chadash, Ki Tetsê) — possivelmente serão decretadas algumas dificuldades na vida do ser humano que em sua vida anterior não tenha sido tão justo.
Em alguns casos a alma regressará a este mundo com um novo corpo para fazer determinados reparos; mas também existe a possibilidade de que uma alma seja restaurada no próprio plano espiritual, tornando desnecessária a reencarnação (Zohar, Sh’lach Lechá 162a).
Deus poderá dar uma nova oportunidade para a alma regressar e concretizar o objetivo destinado originalmente. Porém, certas condições serão impostas à nova jornada. Estas condições serão necessárias para retificar os atos realizados na encarnação anterior. Ao deparar-se com dificuldades em sua vida atual — concedida como uma oportunidade de reparar o dano em sua vida anterior — deve-se ter sempre em mente que o mérito de cada ato será proporcional ao esforço exigido em sua realização. Estas dificuldades exigirão da pessoa um acréscimo de esforço para superá-las. E, evidentemente, o reparo para sua alma também será maior, chegando a poder retificar todo o mal causado em sua vida anterior.
Quantas vezes uma alma pode reencarnar?
A alma de uma pessoa que não teve o mérito de cumprir sua missão em vida poderá regressar outras três vezes em outros corpos, porém a alma de um tsadik (o justo, que cumpriu sua missão) não necessita reencarnar (Marshá Shabat 152,153). No entanto, caso esteja faltando algum tipo de complemento na sua função, a alma de uma pessoa justa poderá também reencarnar (Ari Z”l). Se, em sua quarta vida — ou seja, em sua terceira reencarnação — a pessoa ainda não se retificou, ela será desqualificada para sempre. Isto acontecerá somente se não houver absolutamente nenhuma modificação à sua alma durante seus períodos de vida. O menor indício de que tenha sido iniciado, em alguma das três reencarnações, a retificação da alma, já é suficiente para eliminar a possibilidade da desqualificação, abrindo-se daí em diante um novo leque de reencarnações, no qual se pode regressar por um número indefinido de vezes. (Ari Z”l, Shaar Haguilgulim,4)
Quem não conhece o conceito da reencarnação poderá surpreender-se com a existência de pessoas que, aparentemente, nunca fizeram nada de errado e que, no entanto, não desfrutam de nenhuma tranqüilidade em suas vidas. Para enfatizar este conceito, nossos Sábios transmitiram a noção de que o nascimento dos filhos, o tempo de vida e a fonte do sustento de alguém não dependem diretamente de seus esforços, mas serão pré-estabelecidos segundo a função que se terá de exercer durante a sua vida. (Zohar Pinchas 216)
Por exemplo, certas crianças nascem com alguma deficiência física, com problemas de saúde ou com um nível de pobreza excessivo como conseqüência de sua vida anterior. (Chafets Chaim, Parashat Haazinu)
A alma de um justo às vezes não completa a sua função, e necessita reencarnar. Seu cônjuge, a sua alma gêmea, também deverá voltar ao mundo. Caso aconteça que esta alma retorne sem sua alma gêmea, ela não terá boas condições na nova vida (Tikunei Zohar 69, folha 100b).
Uma pessoa que matou alguém poderá trazê-la de volta em outra encarnação, como seu filho por exemplo. Assim, da mesma que ela o tirou deste mundo terá de fazê-lo regressar. (Ramak no livro Shiur Chochmá)
Uma pessoa que roubou algo e não devolveu, os dois poderão voltar em uma nova encarnação, e o furto será reembolsado (Gaon de Vilna, Mishlei 14,25). A alma da pessoa que roubou não terá conserto até que reembolse o furto. (Chafets Chaim, Sfat Tamim cap.4)
O Sábio Chaim Vital Z”l escreveu que o seu mestre Ari Z”l lhe revelou suas encarnações anteriores, e aquilo que ele viera consertar nesta nova encarnação. Explicou, baseando-se em suas vidas anteriores, passagens importantes de sua vida atual, e também certas características pessoais encontradas nele próprio como conseqüência de suas outras vidas, e de que maneira estava retificando cada uma delas em sua nova encarnação. (Shaarei Emuná página 169-172)

Quando o objetivo da pessoa nesta nova encarnação é cumprido, já não é necessário que ela siga vivendo. Explica-se aqui que a morte não é um acontecimento ao acaso (Shaarei Emuná 165, com.4). Uma pessoa que veio ao mundo com um objetivo específico pode acabar partindo mesmo estando jovem, pois todo o objetivo de sua vinda a este mundo era o de completar aquilo que estava faltando (introdução Shaar Haguilgulim em nome do bem Ish Chai).

Nossos Sábios nos ensinam (livro Michtav MeEliahu, parte 4, página 120) que, hoje em dia, praticamente todos nós somos reencarnações, ou seja, quase todos nós já vivemos em outra (ou outras) vida(s), e regressamos para completar o que não foi feito, ou reparar o que foi feito indevidamente.
Como poderemos saber o que viemos consertar e assim aproveitar esta nova oportunidade que nos foi dada?
Através de dois sinais podemos perceber a resposta:
a. Tentar localizar qual é a transgressão (ato proibido pela Torá) que tendemos a cometer muitas vezes. É preciso realizar um trabalho de auto-aprimoramento para elaborar este aspecto;
b. Pensar qual foi a transgressão cometida em que o desejo de transgredir tenha sido muito forte; pois, uma vez acostumada a cometê-la durante a vida anterior, ela passou a fazer parte da sua natureza.
Existe outro sinal que pode ajudar a informar a quê viemos. Ao perceber um desejo especial em cumprir um mandamento específico, ela pode concluir que justamente nesse tema pode haver falhado em sua vida anterior, e que tenha recebido uma nova chance para completar sua missão. Não se deve desistir de cumprir este mandamento, e sim cumpri-lo de forma completa. Vários obstáculos aparecerão para criar dificuldades, porém a pessoa deve vencê-los e seguir firme em seu caminho. (Shevet Mussar cap.1, 13 e 14)
Para permitir a reparação dos erros cometidos em sua vida anterior, a pessoa será posta à prova nesta encarnação nos mesmos temas em que falhou anteriormente e, caso consiga passar pelas provas com êxito, também consertará o erro cometido em sua vida anterior. (Shaarei Emuná 170 comentário 10).
PRIMEIRO ARTIGO SOBRE O ASSUNTO PUBLICADO EM JUNHO DE 2011 NA RUA JUDAICA:

O judaísmo não preconiza o conceito de a vida após a morte e não considera viável a reencarnação.

Mentira
: A base do judaísmo e da prática da Torah gira em torno da continuidade espiritual em uma outra dimensão. Segundo a Torah, em inúmeras fontes, Deus decide quantas chances, e quantas reencarnações, cada pessoa terá para completar sua meta. Neste mundo tudo permanece oculto — aquele que faz uma mitzvá (cumpre um ato positivo), ou uma averá (uma transgressão) permanece idêntico na superfície; não é possível distinguir pela face quem é um assassino e quem é um benfeitor. A própria palavra em Hebraico para "mundo" — OLAM — vem da raíz NEELAM, que significa oculto.

(Adaptado do livro "O Místico" especialmente a Rua Judaica, por Fernando Bisker, Miami)