I. INTRODUÇÃO
O cristianismo está baseado na reivindicação de que o Jesus é o Messias prometido na Bíblia hebraica, o qual teria cumprido todas as profecias. Na realidade, há muitos sites cristãos missionários na Internet onde listam centenas de "profecias do Velho Testamento", utilizando o Novo Testamento como "evidência" do cumprimento das mesmas por Jesus.
Não é a preocupação espiritual do Judaísmo e da comunidade judaica em "converter cristão", porém, o cristianismo em si possui uma "vocação proselitista", sendo assim, querem a todo custo "converter" as pessoas e, infelizes situações acontecem quando missionários cristãos investem na evangelização ao povo judeu . Eles tentam convencer seu público judaico, principalmente aqueles que não possuem uma boa educação judaica, que sua crença em Jesus é uma confirmação bíblica e totalmente verdadeira, sendo que precisam aceitar o messias deles para que sejam "judeus completos" e "salvos".
A realidade da era messiânica, como descrito na Bíblia Hebraica, consiste de alguns itens significantes, os quais serão efetuados durante o reinado do Messias Judeu. Esse estudo focaliza aquilo que a Bíblia Hebraica ensina em relação às qualificações e expectativas do Messias prometido e também alertar os leitores judeus quanto ao proselitismo cristão.
II. Messias do judaísmo
Governará na era messiânica, como predito na Bíblia Hebraica, e presidirá sobre o povo de Israel como Rei, sentando no trono do Rei David. Executará e completará com sucesso as "tarefas messiânicas".
Abaixo serão listados alguns detalhes dos requisitos do Messias, conforme previstos nas Escrituras Judaicas.
Qualificações
As qualificações são os pré-requisitos que necessariamente deverá ter o Messias Judeu, não sendo limitado somente a estas, mas incluindo as seguintes:
A – Descendente do Rei David através de Salomão
O Messias será um descendente biológico do Rei David através de seu filho Salomão que foi sucessor ao trono, o qual construiu o Templo Sagrado em Jerusalém. (veja I Reis 8:15-20; I Cron 17:11-15, 22:9-10, 28:3-7):
B – Líder Espiritual e Político/Militar em Israel
O Messias terá um profundo conhecimento da Torah, será uma autoridade que influenciará todo Israel para seguir a Palavra de H-shem, num ambiente criado por sua liderança espiritual. Também derrotará e conquistará os inimigos de Israel. Com sendo mortal, um ser humano de carne e osso, habitante de um mundo cheio de exigências militares e alinhamentos políticos, terá que lidar com essas realidades e sairá vitorioso, sua liderança política será reconhecida em todo mundo.(veja Isaías 2:3, 11:2, Dan. 7:14)
C – Será casado e terá filhos
Embora não sejam declarados o casamento e os filhos como pré-requisitos para o Messias, há uma clara indicação de que o Príncipe que é o Rei Messias (veja em Ezeq. 34:23-24, 37:24), durante a era messiânica terá filhos (por matrimonio), onde receberão uma porção na herança. (Ezeq. 46:16-17)
Acontecimentos e Realizações
Alguns cumprimentos significativos deverão ocorrer antes, durante e no término da era messiânica, não sendo necessariamente limitado aos itens abaixo, porém devem incluí-los:
A – Vinda de Elias, o profeta.
O profeta Elias, aquele que foi levado numa carruagem de fogo (II Reis 2:11), procederá ao Messias e "preparará o caminho" para sua manifestação, anunciando o inicio da era messiânica, onde o mundo passará por algumas transformações. (Veja Malaquias 3:23[4:5])
B – Construção do Terceiro Templo em Jerusalém
A presença do terceiro Templo é talvez a descrição mais detalhada e vivida na era messiânica, como podemos ver na Bíblia Hebraica em Ezequiel 37:26-28 e posteriormente nos capítulos 40 a 48, onde o Profeta faz uma descrição detalhada do Terceiro Templo e dos rituais dentro do mesmo.
C – Agrupamento da Casa de Jacó dentre as nações para Israel.
O Messias congregará a Casa de Jacó, removendo o Exílio e os trará para a Terra prometida de Israel em preparação para a restauração do cisma que ocorreu depois do reinado de Salomão. (veja Isaias 11:12, 43:5-6; Jer. 16:15, 23:3, 33:7; Ezeq. 37:21-22; Zac. 10:6-10).
D – Reunificação de Judá e Israel num só povo.
Outra realização que ocorrerá com a presença do Messias será o retorno de Judá e de Israel, fazendo deles um só povo; uma única nação, como nos tempos do Rei David. (Ezeq. 37:22).
E – Paz Mundial
O Messias será reconhecido como justo juiz e pacificador, e na era messiânica, serão resolvidas as disputas entre os paises através de métodos pacíficos e não por guerra. (Isaías 2:4).
F – Conhecimento Universal de D-us
Haverá um conhecimento de D-us, de Seu poder, de Seus atributos em toda terra, como as águas cobrem o mar, cessando a destruição e a violência. (Isaias 11: 9; Jer. 31:34)
G – Ressurreição dos Mortos
Analisemos três classificações de mundo:
a - Nossa realidade atual (Olam Hazê).
b - A Era de Mashiach (Yemot Hamashiach)
c - O Mundo Vindouro (Olam Habá).
O primeiro é o mundo que atualmente vivemos, alheio ao conhecimento e temor de D-us, repleto de violências, injustiças e guerras. Breve, entraremos na era messiânica, que é esse mesmo mundo nosso, porém com a manifestação do poder de Hashem, não havendo a corrupção dos homens, onde haverá acontecimentos e realizações que elevará a raça humana ao pico de seu potencial natural. Mas ainda a morte continuará existindo, como um fenômeno natural do fim do físico (ex. Is. 65:20), contudo a era messiânica será uma preparação para o Olam Habá (Mundo Vindouro), onde nessa transição haverá a ressurreição dos mortos, sendo que os justos viverão e estarão no Mundo Vindouro, um mundo conforme o propósito inicial de D-us (lembrar Gan Edem (jardim do Édem)) (veja Isaias 26:19; Dn. 12:2).
III. ALEGAÇÕES CRISTÃS
O fato do não cumprimento das realizações messiânicas por parte de Jesus forçou o cristianismo na criação da teologia da "2º vinda", onde supostamente realizaria o que não fez. Para um leigo, talvez possa até parecer "razoável", porém para o judeu devoto isso é totalmente contrário ao que ensina a Bíblia Hebraica. Diz o cristianismo que na "1º vinda" ele veio para cumprir várias profecias referentes a "salvação", sendo que foi um "cordeiro" – um sacrifício humano para o perdão dos pecados e que na "2º vinda" viria como "rei" e cumpriria o restante das profecias. Com isso apologistas e missionários cristãos, com intuito de levar o "Jesus" para os judeus torcem os textos sagrados conforme possam adaptá-los aos seus dogmas e para "reforçar" seus argumentos sutilosos buscam "informações" das palavras dos Rabinos e dos Sábios, bem como da literatura judaica, para manipularem, tirando do contexto e da análise de interpretação judaica, a qual foram escritos, afirmando com isso que os rabinos de antigamente acreditavam conforme o cristianismo e que os líderes do judaísmo "mudaram" a interpretação das Escrituras para que nenhum judeu se convertesse a Jesus. Essa tática missionária de utilizar o próprio judaísmo (claro, distorcido) tem feito grandes destruições nas mentes do nosso povo.
A – Supostas "Profecias Messiânicas"
A principal estratégia de evangelização utilizada pelos missionários e cristãos fundamentalistas são as chamadas "profecias messiânicas", onde passagens do Tanach são "manipuladas" para que supostamente apontem para o Jesus deles, inclusive alguns "messiânicos" buscam distorcer palavras dos rabinos e da literatura judaica para conseguirem seus objetivos. A utilização do NT para "confirmar" o "Velho Testamento" é tão gritante que claramente transparece a intenção dos seus autores.
B – Desmascarando as "Provas Textuais" (Jews for Judaism)
Enquanto passeava por uma floresta, uma pessoa notou um círculo marcado em uma árvore com uma flecha perfeitamente cravada no seu centro. Metros adiante notaram que havia várias árvores com círculos e flechas bem no centro. Mais tarde encontrou um hábil arqueiro e perguntou a ele: "Como se tornou um perito tão grande a ponto de acertar sempre no centro do alvo?" "Não é nada difícil", respondeu o arqueiro, "Primeiro atiro a flecha e depois desenho o círculo em volta dela para que esteja bem no centro". Quando examinamos as "provas textuais" que afirmam ser Jesus o Messias prometido, temos sempre de formular a seguinte questão: "Foi uma flecha que foi atirada dentro de um círculo ou foi um círculo que foi desenhado em volta da flecha?" Em outras palavras, terá esta passagem sida mal traduzida, mal interpretada, mal citada, tirada fora de contexto ou fabricada? Há muitos exemplos das falácias do NT, mas vejam, algumas das muitas maneiras como os missionários "desenham círculos em volta da flecha" para poder provar seu ponto de vista.
1. O versículo foi fabricado e não existe nas Escrituras Hebraicas
A profecia mais fácil de cumprir é aquela que você mesmo inventou. O Novo Testamento é uma grande testemunha deste princípio, fabricando inúmeras"profecias" vazias de conteúdo mas que foram atribuídas às Escrituras Hebraicas.O Novo Testamento, em Mateus, afirma que Jesus era o Messias porque ele viveu na cidade de Nazareth. Veja a "prova textual" utilizada para provar este ponto de vista: "Ele (Jesus) chegou e residiu numa cidade chamada Nazareth, para que o que foi dito pelos profetas pudesse ser cumprido. Ele foi então chamado de O Nazareno" (Mateus 2:23). Como Nazareno é alguém que reside na cidade de Nazareth e esta cidade não existia no tempo da Bíblia Judaica, é impossível encontrar esta citação nos textos hebraicos. Daí que é uma prova fabricada e vazia sem realidade. Um missionário eficiente procurará sempre trabalhar com traduções de segunda fonte e do grego antigo, evitando sempre que possível topar com o original hebraico.
2. O versículo foi mal traduzido
Em Romanos 11:26, a Bíblia Cristã cita Isaías 59:20 dizendo: "O libertador virá de Zion e removerá o paganismo de Jacob", desta maneira providenciando o suporte textual para a crença cristã que o Messias removerá os nossos pecados. Entretanto, um exame cuidadoso do original em hebraico revela um profundo dilema. Isaías 59:20 na verdade diz exatamente o contrário: "Um redentor irá até Zion e para aqueles que abandonarem as transgressões de Jacob, assim disse o Senhor". O papel do Messias não é remover os nossos pecados, ao invés disso, quando nós tivermos abandonado nossos pecados, então o Messias virá! O mais estranho é que muitos Novos Testamentos traduzem Isaías corretamente e o citam incorretamente em Romanos.
3. Passagem mal traduzida e lida fora do contexto
Na tentativa de provar o conceito do "nascimento de uma virgem", Mateus 1:22-23 afirma: " Agora tudo isto foi feito para que seja cumprido o que foi dito pelo Senhor pelos seus profetas, dizendo, 'Eis que uma virgem terá uma criança e eles o chamarão pelo nome de Emanuel', cuja tradução quer dizer, D-us está conosco ".Os missionários dizem ser o cumprimento de uma profecia de Isaías 7:14, que na verdade diz que:
"Eis que a jovem mulher terá uma criança e ela o chamará pelo seu nome Emanuel". Podemos apontar inúmeras incongruências na tradução cristã. Por exemplo:
1) a palavra Hebraica "almah", significa uma mulher jovem e não uma virgem, fato já reconhecido pelos estudiosos da Bíblia;
2) O versículo diz "ha'almah", "a mulher jovem" e não uma mulher jovem, especificando que havia uma mulher em particular que era conhecida por Isaías durante o período em que vivia, e
3) o versículo diz "ela o chamará de Emanuel ", e não eles o chamarão.
Alguns missionários argumentam que numa tradução antiga da Bíblia chamada "Septuaginta", 70 grandes rabinos traduziram a palavra "almah", em Isaías 7:14 para "parthenos" e que esta palavra quer dizer virgem em grego. Esta afirmação é falsa por várias razões:
1) Os 70 rabinos não traduziram o livro de Isaías, mas apenas o "Pentateuco", os cinco livros de Moisés. Na verdade, a introdução da tradução da Septuaguinta para o Inglês começa assim: " O Pentateuco parece ser o texto melhor executado enquanto que Isaías é o pior traduzido".
2) Em Gênesis 34:2-3 a palavra "parthenos" é usada como referência à não-virgens, a uma mulher jovem que tenha sido estuprada.
3) A Septuaguinta não é citada pelos missionários a partir do original mas a partir de uma versão deturpada.
Mesmo apesar destas discrepâncias, se lermos todo o capítulo 7 de Isaías de onde esta passagem foi tirada, fica óbvio que os cristãos tiraram este versículo fora de seu contexto. Este capítulo fala sobre a profecia feita para o rei judeu Achaz para amenizar o seu temor da invasão de dois reis (de Damasco e da Samaria) que se preparavam para invadir Jerusalém, cerca de 700 anos antes de Jesus.
O ponto de vista de Isaías era de que este evento aconteceria num futuro breve (e não dentro de 700 anos, como quer o Cristianismo). O versículo 16 clarifica o fato abundantemente: " Porque antes do menino saber o suficiente para discernir entre o bem e o mal, a terra dos reis que o apavoram cairá em abandono".
De fato, neste mesmo capítulo, a profecia se cumpre com o nascimento de um filho para Isaías. Como é citado em Isaías 8:4, "Porque antes do menino aprender a chamar "meu pai e minha mãe", as riquezas de Damasco e os espólios de Samaria deverão ser levados até o rei da Assíria ". Este versículo põe por terra qualquer conexão com Jesus que teria nascido 700 anos depois. Não tem nada de "profecia messiânica!"
4. Caso lido no contexto, o versículo não tem nada a ver com Jesus.
Em Hebreus 1:5, o Novo Testamento cita o versículo de Samuel II, 7:14, " Eu serei um pai para ele e ele será um filho para mim ". Esta referência é tida como concernente a Jesus como o filho de D-us. No entanto, se lermos este verso em Samuel II na sua totalidade, o versículo não termina com a frase citada no Novo Testamento, mas continua: " Quando ele cometer iniquidade, corrigi-lo-ei com a vara do homem". Isto simplesmente não coaduna com a idéia cristã de um Jesus "sem pecado". Mais ainda, este versículo fala especificamente do rei Salomão, como é óbvio em Crônicas 22:9-10, "O seu nome será Salomão... ele construirá uma casa em Meu nome e eu serei como um Pai para ele e ele será como um filho para Mim".A Bíblia freqüentemente se refere a indivíduos como "filhos" de D-us. De fato, D-us se refere a toda a nação de Israel da seguinte maneira: "Israel, Meu filho e Meu primogênito" (Êxodo 4:22).
Estes exemplos demonstram a confusão criada quando os missionários atiram a flecha e depois pintam o círculo em volta dela. Nosso conselho é sempre tomar o tempo necessário para examinar e ler as passagens cuidadosamente. Se você seguir este conselho, a interpretação correta será evidentemente clara.
IV. CONCLUSÃO
Esse breve artigo não teve por objetivo "convencer" o publico cristão, nem apresentar a "contra-resposta" aos argumentos missionários (isso seria assunto para outro estudo), mas sim alertar nossos irmãos judeus quanto a essas investidas proselitistas que destroem a fé judaica e clarear sobre o conceito judaico do Melech Mashiach. De acordo com as exigências declaradas na Bíblia hebraica, e como testemunha o registro histórico, o Messias Judeu ainda não se manifestou. O Cristianismo proclamou Jesus como Messias e D-us, e o Novo Testamento como sendo a "evidência" do cumprimento das "profecias messiânicas" do "Velho Testamento". Os missionários cristãos tentam impressionar as pessoas judias com suas abordagens e utilização distorcida das Escrituras Judaicas e também do próprio judaísmo. Por isso é importante que cada um de nós estejamos atentos a essas sutilezas, afirmando nossas convicções e nossa fé na Sagrada Torah, não nos desviando nem para a direita nem para a esquerda, mas permanecendo firmes Naquele que é o Redentor de Israel.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
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